Projeto que dá rosto e voz a pessoas que foram escravizadas na Bahia vira exposição em Salvador; conheça iniciativa

  • 06/11/2025
(Foto: Reprodução)
Iniciativas baianas buscam resgatar a história da população preta na Bahia através da IA Em agosto de 1851, Cenâco tinha 14 anos. Para a Polícia da Corte, ele tinha estatura regular, cabelos "grenhos" e cor preta. Foi descrito como um "crioulo preto livre" no passaporte de número 1.809 emitido no Brasil Império e recebeu autorização para viajar do Rio de Janeiro de volta à Bahia, onde exercia a "profissão de criado". Cenâco foi um dos milhares de escravizados explorados na Bahia e agora, séculos depois, tem sua história contada na exposição "Fragmentos da Memória", lançada nesta quinta-feira (6), no Shopping da Bahia, em Salvador. São 40 imagens baseadas em pessoas reais, feitas pela Inteligência Artificial por meio de dados conservados pelo Arquivo Público do Estado (Apeb). Apesar de guardar mais de 200 anos de história, com papéis que datam o período colonial, o acervo que reúne dados sobre pessoas como Cenâco é escasso: o que existe são apenas fragmentos. As informações sobre todos os rostos da exposição constam em documentos como passaportes, conservados pela instituição baiana. 📲 Clique aqui e entre no grupo do WhatsApp do g1 Bahia Por outro lado, o que não faltam são informações sobre a população não-negra, que também chegou ao Brasil pelo mar, há centenas de anos. Nomes, sobrenomes, países de origem... De acordo com Jorge X, diretor do Arquivo Público da Bahia, essas informações são buscadas constantemente para a emissão de documentos. “Percebi que a população não-negra tinha toda a sua dignidade simbólica e ancestral através da documentação. Eles conseguiam identificar nos livros de entrada e saída de passageiros o bisavô, trisavô, e isso dava a garantia de conseguir uma dupla cidadania, por exemplo”, explicou o diretor. Jorge X, diretor do Arquivo Público da Bahia Malu Vieira/ g1 BA O abismo entre as memórias dos dois povos foi o pontapé inicial para a idealização do Projeto Fragmentos da Memória. Inspirado em trabalhos feitos pelo Arquivo Público do Estado de São Paulo e pelo grupo Direito à Memória, os profissionais do Apeb analisaram passaportes, cartas de alforria, inventários e outros documentos para reconstruir, com auxílio da Inteligência Artificial, as imagens de quem construiu o Brasil. Depois, transformaram as fotos em vídeos que contam o contexto em que essas pessoas foram inseridas. "O 'Fragmentos da Memória' é um processo civilizatório que dá oportunidade para essa geração saber como nós chegamos até aqui, acertando e errando". Dos documentos até as fotos Passaporte de escravizado Malu Vieira/ g1 BA Não foi fácil transformar os poucos registros escritos em imagens. Diferente dos imigrantes brancos, as pessoas negras tinham seus nomes descartados ao chegarem no Brasil colônia. Elas recebiam um nome português e, às vezes, tinham a nação de onde vieram usada como sobrenome – a exemplo de Maria Nagô, uma das mulheres retratadas pelo projeto. "Isso é muito pouco para reestabelecer os laços ancestrais", destacou Jorge X. Para gerar as imagens, foi necessário montar uma equipe com paleógrafos, historiadores, arquivistas, pesquisadores e artistas visuais. O livro "Um Defeito de Cor", de Ana Maria Gonçalves, foi um dos materiais usados como referência, além de quadros pintados por artistas da época. Os profissionais prestaram atenção aos detalhes, como as marcas de nação africana feitas nos rostos e nos braços das pessoas para diferenciar os grupos étnicos trazidos para o Brasil. Com as características, foram criados "prompts" — espécies de comandos — que foram fornecidos para as inteligências artificiais. "As descrições dos marcadores raciais foram feitas por mãos brancas, então têm descrições bem pejorativas, como 'nariz gigantesco'. Quando colocávamos isso na Inteligência Artificial, ela respondia de forma distorcida, então precisamos equacionar isso". Imagens foram feitas por IA Arquivo Público da Bahia 👚 Até as roupas foram levadas em consideração no processo. O tipo de pano usado pelos escravizados e os modelos da época foram reproduzidos nas imagens, sempre com base nos registros da época. O resultado do trabalho foram 40 "fotografias" de pessoas negras escravizadas. Movidos pelo desejo de dar mais do que um rosto aos nomes esquecidos, os profissionais também transformaram as fotos em vídeos na segunda etapa do projeto. Nas filmagens, Cênaco, Ussá, Maria Nagô e outras pessoas ganham voz e falam sobre os contextos em que foram inseridas. 🎥 Por exemplo, em um dos vídeos, Ussá, um idoso de 76 anos, conta que foi "liberto pelo próprio tempo" e não pelo "papel" — ou seja, ele só conquistou a liberdade porque já estava idoso, e não por uma carta de alforria. Representatividade "O Brasil é um jovem de 20 anos que aprendeu até os 15 que escravizar pessoas negras era legal", afirmou Jorge X. As imagens e as histórias retratadas no projeto pretendem contar a história do Brasil sob outra perspectiva e ressignificar a forma como os escravizados são retratados. Segundo o diretor do Apeb, o primeiro negro à frente da instituição, a equipe do projeto era majoritariamente negra, o que trouxe um senso de pertencimento ainda maior. "Eles se viam nas imagens", constatou. Diversos documentos foram analisados para recriar as fotos através da IA Malu Vieira/ g1 BA Para Adalton Silva, especialista em paleografia e documentação histórica e coordenador de preservação da entidade, a dimensão do projeto só foi percebida após abordagem de um artista plástico que soube da iniciativa. "Ele veio até mim e me agradeceu por esse projeto, porque ele se sentiu reconhecido", contou. Nesse Novembro Negro, mês que celebra a cultura e a resistência da população negra, as imagens e os documentos necessários para gerá-las ficarão em exposição durante todo o mês no Shopping da Bahia. Os funcionários da instituição estarão no local para receber os visitantes e explicar as etapas projeto. LEIA TAMBEM: Cemitério encontrado em estacionamento de Salvador abriga corpos de mais de 100 mil escravizados, aponta pesquisa

FONTE: https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2025/11/06/projeto-que-da-rosto-e-voz-a-pessoas-que-foram-escravizadas-na-bahia-vira-exposicao-em-salvador.ghtml


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